Pedaços ao Vento


O vento reverbera no corpo da moça. Ela podia sentir como se ele fosse levando pedaços e pedaços de seu corpo. A calmaria daquela praia inóspita (ainda que cheia de pessoas, sorrisos e brincadeiras) a assustava.

"Teria que ser sempre assim?" - Ela pensou.

Olhou atentamente o horizonte. podia vê-lo, à distância, lhe dando as costas e sumindo...

Com ele, via partir uma parte de si. Um pedaço de sua base. Ia com ele, um rapaz que apenas andava, se distânciava. Em momento algum ele sequer olhou para trás.

"Será que está sorrindo? Será que está chorando? Será..."

Perguntas e perguntas ecoavam pela mente dela. Não somente com relação àquele ser, mas também sobre si mesma. Estava de coração partido. Estava sozinha, novamente. Não por não ter a ninguém, mas simplesmente pela sensação de abandono que lhe permeava. Sentia que mais uma vez ela perdia um caminho, que mais uma vez tinha entregue um pedacinho seu a alguém que apenas foi embora.

Saiu de seu tranze e observou à sua volta. Jovens surfistas, famílias, pessoas se bronzeando, grupos de amigos batendo papo, areia, água, sol, vento, grama... Aaah, a grama. Cá ela está, gostosa de se tocar. Sofia descruza as pernas e deita-se. Sente bem o gramado em sua pele. Olhando acima, as folhas do coqueiro lhe tranquilizavam. Ainda assim, lágrimas não deixaram de escorrer por seu rosto - não podia contê-las.

A dor de um coração partido é, de fato, um dos maiores desprazeres que se pode sentir. Ela respirou bem fundo a fim de se afogar um pouco naquele sentimento. Sentiu-se só, como se sua presença fosse uma ironia naquele espaço. Sua mente estava uma bagunça, não podia compreender o sentido daquela situação, por mais que soubesse exatamente o porquê de não ficarem juntos. Ela já fez o mesmo: Afastar um amor a fim de cuidar da casa - cuidar de si.

Voltou a sentar-se. Abraçou as pernas e observou o mar. Ondas indo e vindo. Fluidez como a energia que sentia percorrer seu corpo. Era quase como se pudesse perceber o movimento dos órgãos e fluidos de seu corpo.

Voltou a devanear. Ele havia parado de caminhar. Olhou para trás. Apertou os lábios em uma expressão triste. Era como se ele dissesse: "Nunca dará certo.". Aquilo a rasgou por completo.

Dizem que quando há amor, dá certo. Dizem que se deixarmos livres aqueles que nos amam, sempre voltam. Ainda que tentasse, ela não podia acreditar por completo nessas premissas. O viu partir e sumir ao horizonte. A desesperança transbordou em choro.

Um braço apoiou-se em seus ombros e a puxou para um abraço. Por um instante, ela assustou-se e tentou desvencilhar-se daquele corpo estranho, que não havia percebido chegar. Olhou mais atentamente àquela ser de braços abertos: um amigo. Desculpou-se e pôs os braços dele à sua volta. Podia sentir assim, que sua casa podia se reestruturar novamente.




Autora: Stephanie Santana

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