Súplicas Malditas

       Caminhava de volta para casa. Já eram cinco e meia da tarde. A luz do sol ia desaparecendo à medida que caminhava. Seus passos mal ecoavam em meio à rua cheia de pessoas. Fora um dia de chuva, andava rapidamente, queria chegar à sua casa antes que caísse um toró. Não se importava tanto com a escova que havia feito no dia anterior, mas sim com os documentos que guardava consigo.
       Aos poucos a multidão ia se esvaindo, deixando seu caminho cada vez mais vazio. As ruas cheias de pessoas, casas, centros e etc. davam lugar a outras cheias de edifícios abandonados ou vazios devido ao horário. Estava acostumada ao trecho deserto, afinal, quem iria querer passar por ali àquela hora da tarde? Fora roubada algumas vezes, mas aprendera a não ter medo. O medo nunca ajudava naquelas situações.
       Era uma tarde usual. Nada de novo, mesmas reclamações, mesmas broncas do chefe. Tudo a favor de sua infelicidade.
       Uma criança surgira de um beco entre as edificações. Ela parou por um instante. 
       Talvez fosse mais uma ladra, não seria de se estranhar daquele lugar. Estava suja, suas roupas eram rasgadas e perdera a doçura usual que o rosto de uma criança naquela idade costumava carregar.
      Ela correra até Alexandra e abraçou-a. Um estranho bom sentimento passou pela mulher naquele momento.
       Me ajuda, moça. Eu preciso que me ajude, por favor! O menino se afastou e olhou-a com os olhos molhados. Venha comigo. Eu te peço.
       Alexandra estava estática. Aquela era uma situação totalmente anormal. O que um menininho estaria fazendo ali? O que fora aquele bom sentimento? Ela queria ajudar. Mesmo que fosse perigoso. Mesmo estando desconfiada.
       O que aconteceu garotinho?
       Me ajuda, moça! Eu só quero ajuda, por favor!
       A súplica do menino, os olhos chorosos, a voz doce contrastantes com sua aparência amoleceram seu coração desconfiado. A criança segurou seu pulso delicadamente e a puxou. Alexandra se deixou levar em meio à confusão em sua cabeça.
       O menino a levara para dentro de um dos galpões. O coração da mulher disparara pelo medo. Não sabia se havia alguém por trás daquela criança, não sabia se o desespero que via nela era verdadeiro, mas continuava a seguir seus pequenos passos.

       O galpão estava um pouco escuro, algumas parcelas de luz apareciam pelas frestas do telhado mal conservado. Já havia anoitecido, mas Alexandra mal havia notado. Voltara a chover, seus cabelos voltavam a ondular e sua bolsa molhava, mas ela não se importava. Queria ajudar.
       O menino parou. Largou seu braço. A marca roxa que sua mão deixara passou despercebida pela mulher hipnotizada pelas súplicas desesperadas.
       Porém, o que viu à sua frente a tirou de seu transe. Mas, não podia fugir. Era tarde demais.
       Aqui está, meus irmãos. Jantar fresco. Deliciem-se.




Texto por: Stephanie Santana (@stephaniedms)
Ilustração: Lucas Bulhões (Java) (http://covenant9.blogspot.com/)

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