Desejo

Obs.: Contém violência física e verbal

       O melhor caçador não corre atrás da presa. Ele a deixa vir até si e espera pacientemente pelo melhor momento para abocanhá-la de surpresa. Porém, nada substitui o prazer de uma boa caça.
       Ora, ora... Dia de sorte. Odor de dor e prazer.
       Ele  a olhava com intensidade. Machucava seu belo semblante, enquanto ela se punha a chorar. Ele estava com uma peixeira, ameaçava cortar-lhe a garganta se não parasse de chorar. Marcava-lhe o braço com um símbolo, difícil de ver devido ao sangue.
       Ela já não gritava mais. Estava rouca, mal conseguia falar. Já não possuía forças para qualquer outra coisa além de chorar. Seus olhos azuis suplicavam para que a desamarrasse, aquelas cordas estavam apertadas. Seus braços já estavam roxos devido à surra e doíam ainda mais por estarem tão firmemente presos. Nem ao menos podia sentir sua carne sendo rasgada pela faca.
        E então, após terminar o que queria, ele saiu. Foi buscar comida para a sua prisioneira. Ainda não havia saciado seu desejo infesto. Queria mais e mais. A garota tentou se soltar, mais uma vez, em vão. Sentia nojo de si, de seu corpo. Aproveitei a deixa e fui até ela.
       Quando me viu, tentou gritar, porém sua voz não saiu. Esperneou, tentando fugir. Tola. Ela sabia que não conseguiria.
        - Calma. Eu vim te soltar. - Eu falei calmamente com um sorriso sutil.
       Seus olhos desconfiados me fitavam com extremo medo. Fui até ela e a desamarrei. Feliz, ela me abraçou e chorou. Eu a afastei e disse:
       - Agora corra.
       Revelei meus caninos de forma ameaçadora e a observei em sua fuga desesperada.
       Passei algum tempo esperando. A trilha olfativa fazia tudo ficar fácil demais. Ignorei este fator e fui à sua busca. Menina esperta. E nem um pouco inteligente ao mesmo tempo. Escondeu-se. Sabia que correndo não iria muito longe. Dancei entre as árvores em uma caçada. Podia escutar sua respiração ofegante em algum canto. Seu choro desesperado e incontrolável. Ah, que pena. Durou pouco demais. Pelo menos agora seu sangue possuía adrenalina suficiente. Subi em uma árvore, sentei em um grande galho e esperei pacientemente. Depois de alguns minutos, ela saiu de seu buraco. Bobinha.
        - Doçura, sua vida acaba aqui.
       Antes que ela pudesse ter alguma reação, pulei em sua frente, mordi seu pescoço e deliciei-me com seu maravilhoso sangue. Ela soltou um último grito. Baixo e abafado. A intensidade de seu olhar perdeu-se de vez.
        Ah, o gosto da dor... Do medo, do desespero, do desgosto... Juntos, criam uma refeição completa.
        Descartei o corpo e assumi sua forma. Voltei ao cativeiro e esperei deitada ao chão, como se houvesse desmaiado. O estuprador voltou com água e comida. Quando viu o corpo inerte ao chão, veio e tentou acordar-me. Após conseguir, ele me colocou na cadeira e esbofeteou.
       - Sua vadia! Tentou escapar, não é mesmo? Como conseguiu se soltar? - Gritou furiosamente.
       Seu rosto tomara a cor rubra e o contorno de algumas veias  Era como se a garota tivesse feito a  pior coisa de sua vida. Esbofeteou-me mais algumas vezes.
       - Como ousou fazer isso? Não tenho sido bom o bastante para você?
       Mostrava-se indignado. Acariciava meu rosto enquanto falava. Se afastou. Estava pensativo. Voltou e abraçou-me. Acariciou meu rosto. Olhou-me como se pedisse desculpas.
       - Desculpe-me, por favor, desculpe-me. Eu não queria fazer aquilo...
       Beijou-me a boca, se afastou e desatou as cordas. Fingi repulsa, me debati e tentei escapar dele. Ele voltou a me bater e então satisfez seu desejo infesto. Agora seu sangue estava perfeito. Voltei à minha forma habitual e gargalhei. Ele se afastou súbitamente. A raiva e o desespero tomaram conta dele.
       - Quem é você? O que fez com minha princesa?! O que fez com minha princesa?! - Gritou com imenso desespero.Sentimento este devido à quase apenas pela perda de seu brinquedo.
       - O mesmo que farei a você.
       Noventa e nove vítimas. Nada mal. Meu dia acaba aqui. Dez anos de sono profundo virão. Quem sabe uma hora eu ache uma vítima à minha altura? Só me resta esperar.




Agradecimentos: Lucas Barreto, Ana Carolina e principalmente à Ariel Ayres, por suas opiniões e ajuda.
Imagem por Roberto Rizzato
Conto por Stephanie Santana

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